Manifesto pela poesia

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Eu sou, atualmente, professora de alfabetização. Comecei a dar aulas esse ano no município do Rio de Janeiro numa turma de terceiro ano. Isso significa que trabalhei fechando esse primeiro e mais intenso ciclo. Estou dando aula desde maio e só percebi ontem- precisamente ontem- por que eu ensino meus alunos a lerem e escreverem. Caiu a ficha do por quê eu não abaixei a cabeça em nenhuma pequena crise durante meu processo de adaptação.
(Todo mundo tem seu motivo para ser quem se é e estar aonde está. Eu descobri o meu.)
Eu quero que meus meninos e meninas leiam e escrevam para que conheçam seus sonhos. Eu quero que meu meninos e meninas escrevam e leiam para alimentarem seus sonhos, para expressarem seus sonhos, para manifestarem seus sonhos e também, claro, para serem capazes de manifestar suas indignações.
Como posso eu voltar para casa desacreditada de mim e deles, se eles são quem mais precisa de fé? São eles que precisam que acreditemos nesse mundo que eles querem inventar e ainda nem sabem. Como o mundo pode mudar se eu nem eu me permitir mudar para melhor servir ao que eu acredito? Como eu quero conseguir ser professora se meu coração não acreditar de fato que eles são sim capazes de mudar e escrever suas próprias histórias? Que eles são sim capazes de serem poetas? Engenheiros? Maquiadores? Artistas? Médicos?
Não há progresso sem fé. Não há força sem fé. Ainda bem que por debaixo dos escombros de cada desabamento interno foi abrindo espaço para essa fé aparecer e eu me lembrar que não importa as violências, nada pode deter a primavera. As sementes são jogadas à terra novamente, cabe a mim decidir ajudar a germiná-las ou deixar morrer ao tempo. Então levantei todas as vezes calada, cansada, mas, forte. Mais forte para respirar ainda mais fundo e aprender a ser mais leve, aprender a ser mais precisa, aprender a ser mais gentil.
Hoje, assisti a declamação de um poema muito forte e preciso (tanto quanto necessário). E num determinado momento a mulher dizia que vinha rimando para verdade soar mais doce. Poesia é isso. Aprender a ler a escrever é para isso. Para que tenham ao menos um recurso para dizerem suas necessidades e fazerem elas serem ouvidas. Quero que escrevam para que possam adoçar suas próprias existências.
Se queremos um mundo novo, precisamos mostrar ao menos a possibilidade desse mundo aos pequenos, aos jovens, a todos! Não há mudança sem vislumbre. Tampouco há uma satisfação plena para nos mantermos tão quietos e ensinarmos nossas crianças a serem comedidos também. Como ser poeta sem nem saber que isso existe? Como saber lidar com as emoções se não permitimos que eles sintam, que nós sintamos e expressemos da nossa maneira mais íntima?
Não há mercado de trabalho que me movimente, não há discurso furado de meritocracia que me sustente. Escrever para mim é poder expressar o que se é. E eu só quero que eles sejam, e que tenham orgulho disso.
Eu tenho fé.

Comentários

  1. Inspirador ❤❤❤ e que sorte dessas crianças!!

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    1. Obrigada pelo apoio, amiga! Não sabe o quanto é fortalecedor saber que não sonhamos sozinhos! Te amo! <3

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  2. Bárbara, encontrei um comentário seu num post antigo no meu blog e vim aqui conhecer o seu blog. Que texto inspirador! Que missão incrível que você se deu. A de ensinar, de dar asas, de regar essas sementes e ajudá-las a crescer. Parabéns! E que sua caminhada seja de realizações.

    Um beijo,
    Aline

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  3. Que texto lindo e inspirador! Fiquei emocionada lendo, além de me identificar com muitas coisas! "Quero que escrevam para que possam adoçar suas próprias existências.": nossa experiência blogando! As crianças são mesmo nosso futuro e nossa maior (e melhor) esperança! Sigamos nos sonhos, na escrita e na luta! =)

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    1. Obrigada! Muito bom saber que ainda acredita na blogosfera tanto quanto eu! Cada um honrando seu sonho e o mundo seria bem melhor!
      Voltei sempre!

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