Nem grande nem pequeno: sonhar não tem tamanho

   Ao escrever o último post do blog, se não leu leia aqui, eu fiquei intimamente tocada com a ideia de não sonhar grande. Desde pequena eu achava que existiam sonhos grandiosos e que não eram para mim. Achava eu que não tinha a menor confiança em realizar nada grandioso. Sonhar, então, nunca me pareceu muito confortável.

   Aos poucos minha vida foi se tornando uma coletânea de batalhas cotidianas, apesar de ter algumas facilidades econômicas em casa. Já hoje eu percebo o grande erro que eu cometia na infância quando pensava em sonhar. Eu me comparava aos filmes infantis (sempre cheio de histórias emocionantes, grandiosas, impactantes e extramente motivadoras) e diante dessa comparação eu ia me sentindo pequena diante daquelas histórias. Dessa forma, eu fui inconscientemente criando uma régua para sonhos, e como as conquistas espetaculares nunca fizeram muito a minha cabeça, erroneamente eu fui deixando de sonhar. Pelo menos era isso que eu achava.

   Hoje, vivemos uma super onda de empreendedorismo, uma verdadeira revolução do "faça você mesmo". Eu até fico feliz com esse espírito engajado em criar a realidade/trabalho/estilo de vida que deseja. Ao meu ver esse movimento reflete bem a ideia de que se você ainda não vive a realidade que deseja, talvez você precise criá-la. E eu sempre acreditei nisso. Mas, tenho ficado um pouco preocupada com um certo grito motivacional voltado sempre para o "grandioso", o "distante", o "novo". Começo a pensar que as crianças que assistiram aqueles filmes maravilhosos na infância cresceram e se tornaram empreendedores obsessivos por sonhos. Esses que mesmo valorizando as pequenas alegrias do agora, fazem parecer que as sementes desses sonhos são sempre para um futuro distante.

   Isso me leva a entender o que talvez tenha sido o meu problema com sonhar a infância. Eu não queria nada que fosse muito distante de mim. E não era por medo não, como cheguei a imaginar. Era só falta de interesse mesmo. Para mim não fazia sentido querer algo que eu não pudesse sentir/viver quase que imediatamente. Eu só queria o que pudesse me completar no momento. Eu só quero o que sinto que pode me completar agora, sem espera nem projeções. Com isso percebi também que sempre fui atraída por começar a revolução a partir de mim mesma, eu só sinto que posso ajudar ou viver algo de dentro do olho do furacão mesmo (e até isso aprendi a amar em mim também!). Mas, dentro desse mundo meus sonhos não cabiam, ou ao menos pareciam não caber. 

  Também hoje, percebo que não somente eu criei uma régua dos sonhos, mas muitas pessoas também. Geralmente aquelas que dizem "sonhem grande" e enfatizam essa "magnitude" do sonhar. O problema é que essas réguas medem e, tristemente, valoram as coisas as quais desejamos/acreditamos. São essas réguas que nos inibem ou coíbem nossa maneira de sonhar. Por que, vamos pensar: se sonhar já fala de algo que toca e move nosso coração, como é possível dizer que tal sonho é maior que outro? Ou que sonhar é sobre grandes projeções? O que são grandes projeções? Como medir a grandiosidade do coração de alguém? Com alguns desses questionamentos fui percebendo o quanto a régua dos sonhos é injusta e como toda comparação é ruim. Percebo o quanto ela me iludiu e me fez até pensar que eu não sonhava mais. Quando na verdade eu sempre sonhei, mas achava menos importante, por que não era nada cinematográfico. Mas, agora pensando friamente meus sonhos sempre estiveram lá e se apresentavam como desejos sinceros de uma criança sobre si, sobre o mundo e sobre sua vida.

   Acredito que cada um de nós tem um jeito único de ser e viver, então para cada um haveria um sonho e consequentemente uma conquista. É tudo sob medida. Não podemos, nem conseguiremos nunca viver os sonhos nem a vida de outra pessoa, afinal já estamos muito ocupados sendo nós mesmos. O que nos auxilia a encontrar nossos sonhos dentro de nós é apurar a percepção do coração. É buscar sentir com que intensidade eu desejo algo para mim ou para o mundo. Eu desejo muito uma viagem,ou casamento, ou poder passar mais dias tranquilos com minha família? O que palpita mais alto no meu e no seu coração? Esse deve ser nosso filtro interno dos sonhos. Para sabermos preservar o que nos mantém vivos e com sede de viver cada vez mais e melhor. Além desse exercício nos ajudar a descartar aquilo que pode ser apenas uma desejo momentâneo e não vai nos completar de verdade.

   Por tanto, sim, cada um de nós tem um sonho. Se você realmente sonha em viajar o mundo, em fazer um curso incrível fora do país, em minimizar a  fome no mundo, em comprar uma casa grande: ótimo. Esse sonho é seu e só você poderá viver essa experiência ou conviver com a falta dela. Dê duro e não se abata caso te digam que está sonhando "grande de mais", essas pessoas também estão sofrendo como reféns da "régua dos sonhos". Saiba que há uma conquista para cada um de nós, mesmo que seu grande plano seja apenas viver a vida com quem você ama e partilhar das suas aprendizagens, como eu. Até por que independente de qual seja seu sonho, só é possível vivê-lo com muito trabalho e muito amor- tornando mais uma vez nossos sonhos iguais mesmo que diferentes.

   Percebo, enfim, que sonhar alto, não tem a ver com sonhar algo que esteja muito longe, ou que eu possa impactar mais as pessoas ao falar deles. Não é sobre sonhar pensando nas distâncias externas ( referente as condições atuais da nossa vida), mas sim sonhar desbravando cada vez mais nossas distâncias internas (nossos desejos/ dificuldades/ valores). Sonhar alto é sobre sonhar com profundidade, é sobre viver a intensidade do nosso coração e do nosso ser. Não existe régua para isso, tampouco relativizações entre sonhos, pois se vêm do fundo de quem somos então somos todos valorosos. 

  Por fim, ressalvo: um dia depois do outro sempre. Sonhar não precisa ser grande, como dominar o mundo, sonhar só precisa preencher o seu coração. Essa é a medida. E você, como o que sonhou hoje?

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Espero que tenham gostado desse texto, para foi um desafio real falar sobre sonhos e senti que precisava fazer isso até para eu desatar alguns nós antigos. Novamente me expus feito criancinha aqui e peço que fiquem comigo nos comentários. Cada troca é essencial para mim e me ajuda a não me sentir exposta " a toa". Com a contribuição de vocês posso aprofundar e melhorar os textos, além de contribuir mais com vocês se abrirem seus corações também! Aqui é de coração para coração, mesmo que minha cabeça pareça falar sempre mais alto. hehe
Voltem sempre!