Sobre ser caminho- Autoanálise de uma apaixonada por viagens


   Eu amo estradas. E tenho três experiências distintas com viajar. 
  Gosto tanto de viajar que tive fases da minha vida que me dava angustia no peito de passar tanto tempo em casa. Conforme fui conquistando minha liberdade de ir e vir sozinha- independente dos meus pais, eu fui percebendo, que eu não gostava muito era da rotina. Estar viajando era uma ruptura no cotidiano, em que eu podia inventar e viver qualquer coisa, principalmente qualquer coisa diferente do que eu costumo fazer.
  E foi assim por um bom tempo, até que me formei na faculdade e perdi a chance acadêmica e financeira de viajar como eu gostava. Depois que me graduei as coisas deram uma desacelerada drástica na minha vida, me fazendo perceber que dentro de mim também estava mais calmo. Foi então que eu percebi que viajar era bom, mas que voltar para casa era melhor. Nesse período, eu fui desenvolvendo o que é ter saudade e raízes, e que isso não me aprisionava nem aos lugares nem as pessoas. Mas, me trazia paz e alegria por estar de volta. Sem peso, sem amarras. Ter um aconchego para voltar, como bem canta Elba Ramalho, é renovador para pessoas desapegadas como eu. Foi então, que eu comecei a não me sentir uma estrangeira em casa pronta para o próximo rumo que me colocaria novamente frente a um lugar/situação estrangeiro. Mas, assim fui me tornando parte da casa e do mundo que eu ainda quero conhecer.
  Passei de estrangeira à cidadã do mundo, ainda que eu o desconheça. E com as possibilidades de viajar sempre para perto e para lugares conhecidos, eu já não cabia mais mesmo no lugar de estrangeira. Mas, há dois anos comecei a me ver e ver o mundo com olhos de criança que vê tudo pela primeira vez.  A alegria de viajar não se sustentava mais pelo desejo do desconhecido, mas pelo prazer de estar em movimento. Ter o novo com o velho e ter o velho com o velho, também. Pois, às vezes com a rotina nos esquecemos do que amamos nas pessoas que amamos cotidianamente, esquecemos dos lugares queridinhos que já nos geraram grandes alegrias. Esquecemos do quanto fomos felizes com o velho, e do quanto somos agradecidos e amantes do que é velho e continua aqui entre nós .
  Como, os novos horizontes estão mais restritos, hoje, posso reconhecer qual meu amor de verdade nisso tudo. O que realmente faz meu coração vibrar e meu riso ficar frouxo. O que realmente me move é estar na estrada. Estar na estrada me traz uma plenitude sem igual. Estar na estrada traz vida correndo nas veias, traz um brilho no olhar de quem acha tudo bonito. Até a dor, ela também é bonita. E isso tudo por que nossa vida é transitória e eu sempre fui caminho. Olha, que eu estou há quase um ano me observando dentro dessa relação eu/viagens. E hoje, posso afirmar que sim, sou e sempre fui caminho. 
  Fui caminho de amor, de amizade, de encontros. Intencionalmente ou não fui intermédio de muitas pessoas, coisas, lugares, momentos. Propiciei o primeiro teatro de uma amiga, a primeira saída de uma prima, intermediei relações mil e uma vezes, ajudei pessoas a se amarem e terem coragem de serem quem são. Fui coadjuvante de muita coisa! E hoje percebo que não sou nem fui ponto de partida, nem destino de nada. Mas, sempre a estrada pela qual algo precisava acontecer ou simplesmente acontecia, e era o melhor para todos. Isso me dá uma leveza tão grande, pois me tira de um lugar fixo e me coloca direto no movimento. Se bem que para uma pessoa de ar e fogo, não era de se esperar nada muito diferente disso.
  Estar na estrada, então, diz sobre estar em mim mesma e viver por fora o que muitas das vezes fui por dentro (de mim e da relação com o outro). A sensação de não estar nem aqui, nem lá, mas no percurso me dá a alegria de saber que se pode ir aonde quiser. a dicotomia estrangeiro/pertencente se dilui, pois sendo parte de tudo, eu estou em casa aonde quer que esteja. E se não estiver gostando do rumo é só mudar com a mesma alegria e leveza com as quais comecei a viagem. Sem o peso do fatalismo, nem da obsessão pelo nosso próprio destino. Mas, com a atenção e sensibilidade de quem quer chegar bem aonde quer que seja.
   Não tem jeito, quantos mais eu rodo por aqui ou por lá se confirma ainda mais a ideia de que o que vale é o caminho. Como chegarei aonde quero chegar. E pelo menos, por hoje, eu sei que enquanto eu for caminho eu chegarei feliz. Mesmo que, eu esteja desejando cada vez mais não ser o caminho do amor, mas sim o lar no qual ele deseje ficar e fazer morada. Mas isso, já é outra viagem.

***
Pessoal!!! Agradeço a paciência de vocês, nesse período de hiato grande nas postagens do blog. Eu precisava terminar o TCC da minha pós. Então, com mais esse filho acadêmico parido eu estou mais animada do que nunca em voltar! :D Como a saudade está grande por aqui, quantos mais interação aqui no blog ou no Instagram, mais meu coração ficará quente e feliz! 

Se quiserem que eu escreva mais sobre ser caminho do amor, só contar nos comentários! Posso fazer uma "coluna" para o "Autoanálise de uma apaixonada por viagens" e continuar especificamente a partir desse ponto. Sendo assim, A caixinha de comentários está mais que aberta para colocarem suas opiniões, sentimentos e experiências! Sei que não sou a única apaixonada por viagens aqui, vambora trocar, povo!
Beijosss e até a próxima!
:)


Comentários

  1. Que texto lindo. Te vejo assim e fico lembrando daquela Bárbara do primeiro ano de faculdade. Como você amadureceu. Sem dúvida o seu despertar para a religião e para dentro de si vem trazendo muita luz e paz para você e fico muito feliz por isso. Preciso caminhar metade do caminho que você já caminhou hahahaha pois a rotina para mim ainda é dura e massante, não consigo ter esse olhar de gratidão e leveza sempre. Mas sigamos... cada um no seu tempo, né? Sobre o caminho do amor, sempre soube que você era, é e será, porque é sua essenência.

    Amei o texto, amiga! Esperando pelos próximos. Love you.

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    1. Que linda, amiga! Que surpresa boa ter você por aqui de novo! :D
      Realmente eu mudei bastante durante a faculdade, acho que vamos vivendo tantas coisas que é inevitável não se transformar. Eu só tento ficar atenta para mudar na direção certa. Mudar sempre para melhor! E sem isso de que tem que caminhar muito ainda, você também amadureceu demais! E tem a rotina atual bem diferente da minha, o que torna mais massante mesmo De resto, se vamos juntas vamos bem! Cada um no seu caminho, mas sempre buscando o melhor m nós e na nossa vida!
      Obrigada mesmo pela colaboração aqui!
      Vou preparar os próximos, então!
      Te amo também! :)

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    2. *maçante nunca é tarde para ajustar um erro hahahahhaha

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  2. Que texto incrível, Bárbara! Eu amo viajar, e também amo sair da rotina... acho que é tão bom a gente ter essa "quebra de padrão" de vez em quando, acordar em um lugar diferente, fazer coisas diferentes e levar a vida de outra forma... é como um escape de vez em quando, né? Mas sim, também é muito bom voltar pra casa e ter o aconchego daqueles que a gente ama e do nosso cantinho. Estar na estranha é ótimo, é renovador. Não vejo a hora de poder conhecer o mundo todo, mas confesso que quero sempre voltar pra minha casa, seja onde ela for.

    Adoraria que continuasse fazendo posts nesse estilo, bem pessoais e que fazem a gente pensar sobre a nossa própria vida <3

    Beijão!

    Letras na Gaveta

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    1. Realmente é bem assim que tenho me sentido mesmo: é ótimo correr mundo a fora, mas voltar para casa é maravilhoso também!
      Fico tão feliz que tenha gostado! :)
      Já estou anotando mais ideias aqui para continuar esse tipo de texto! Preciso dar sequência a umas temáticas que estavam engavetadas aqui e por pra fora! Esérp que curta cada vez mais!
      Beijos!

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