Do encontro do fogo com a água


"Não quero amor com guerreiro pra o fogo não me queimar.
Quero amor com marinheiro que anda nas ondas do mar..."

Disse a menina com a espada na mão e os pés na areia, onde o mar batia.
Disse a menina de pés descalços marcados de tanto chão que pisou. Pedra, brasa, barro, água e flor.
Disse a menina da pele morena de tanto Sol que pegou, para tanto céu que se expôs.
Disse a menina entrando no mar pra refrescar o corpo que muito suou.
Disse a guerreira que se quer sabia esconder suas batalhas, as marcas nos pés, nas mãos e na alma. Tampouco podia fazê-lo.
Disse depois de muito andar, queimar e amar.
Disse a amante do fogo.
Disse.
E diria de novo.
A onda que bate forte e traz a espuma a seus pés fica num vai e vem que só lhe acalma pelo frescor que traz. As feridas já não ardem mais. E mesmo só conhecendo as batalhas que travava frente a si, era ali frente ao mar que enfrentaria a maior de todas. Era ela,  o mar e o infinito. O mundo infinito. Mas, ela já não tinha medo, pois foram suas batalhas internas que a levaram e a prepararam para aquele momento. De tanto que enfrentou a si mesma, o mundo não a amedrontava mais, apenas o mar lhe era enigma. A fluidez, a sensibilidade ela pouco conhecera. Mas, ali se permitiu chorar. O infinito não era mais desconhecido, era tudo que morava ali dentro dela, só que fora. Era seu íntimo exposto, mas só ela que de tanto caminhar, de tanto ver e viver sabia naquele momento que o mundo todo e todos os seus infernos e paraísos eram ela também. Ela sabia que o fogo que lhe seduzia e queimava era o responsável por tantas batalhas vencidas. O poder de transmutar. Era isso que amava. Era nisso que confiava. Pois, sabia que se o mar e sua imensidão azul lhe afligisse, ela podia mudar de novo e de novo e de novo. Então entrou verdadeiramente no mar. E de tanto tempo afastada de sua parte mais fluida, mais passiva e pacífica foi engolida por ele. Sucumbiu, submergiu. Mas fora o seu velho amante Fogo, como num raio atingindo no centro do seu coração que a fez voltar a si, voltar a vida. E no despertar percebeu que nadar no mar e em si era outra benção de Deus. Fogo e Água não eram opostos, nunca foram. Agora ela sabia.
(18/03/2016)

Comentários

  1. Que conto lindo, Bárbara! Adorei a leitura, tua escrita é ótima! A ilustração no começo do post também é linda, é tua? Combinou DEMAIS com o texto! Parabéns xD

    Um beijo!
    Hey, Maria! | Fanpage

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    1. A ilustração não é minha não e eu acabei deixei o furo de não colocar a fonte, mas foi numa pesquisa do google mesmo. E como agora não estou mais achando por lá, nem tenho como creditar =/
      Apesar de eu ter imaginado um pouco diferente ela, combinou bastante mesmo. Um achado! rs
      Fico feliz que tenha curtido! Vou tentar trabalhar mais com contos também!
      Beijos!

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  2. Caramba que texto lindo e apaixonante, parabéns, estou encantada.
    Charme-se

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    1. Obrigada! Fico feliz que tenha gostado!
      Volte sempre, pretendo explorar um pouco mais os contos por aqui!
      Beijos:)

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  3. Oi Bárbara, tudo bem?
    Que lindo conto! Belas palavras!

    Um super beijo :*
    Claris - Plasticodelic

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  4. Que texto maravilhoso
    beijos
    http://lolamantovani.blogspot.com.br/

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